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Katharina von Bora: uma mulher que rompeu as fronteiras de seu tempo

16/01/2017

Katharina von Bora nasceu no dia 29 de janeiro de 1499 como filha de Hans von Bora e Katharina von Haubitz, um casal nobre empobrecido, na pequena aldeia de Lippendorf na região da Saxônia, Alemanha. Katharina perdeu sua mãe muito cedo. O pai casou novamente e encaminhou a filha, com apenas seis anos de idade, para o convento beneditino em Brehna. Quando Katharina completou 10 anos de idade em 1509, ele a transferiu para o convento da ordem Sistersinianas Trono de Maria em Nimbschen. Ela aprendeu a ler, a escrever, um pouco de latim (a língua acadêmica desse período histórico), a decorar salmos e a recitá-los, a fazer trabalhos manuais, adquiriu conhecimentos na área administrativa e no uso de ervas medicinais. Em 1515, Katharina fez os seus votos como freira, assumindo viver em castidade, pobreza e obediência.

Um acontecimento que mudou a vida de Katharina e também de outras mulheres foi a leitura dos textos de Martim Lutero, afirmando que a justificação é por graça e fé, não mais sendo necessárias as obras e os sacrifícios para alcançar a salvação. Inspiradas pelas ideias reformatórias, doze freiras fugiram do convento de Nimbschen numa sexta-feira santa, dia 5 de abril de 1523. Um comerciante de Torgau, Leonard Koppe, escondeu as doze freiras entre barris de peixes e assim as tirou para fora do mosteiro. Das doze ex-freiras, três voltaram para suas casas e nove seguiram viagem para Wittenberg, sendo acolhidas pelos reformadores. Martim Lutero e Filipe Melanchthon procuraram famílias que pudessem acolher as moças fugitivas. Katharina von Bora foi encaminhada à casa do grande pintor e farmacêutico Lucas Cranach e sua esposa Barbara Cranach. Ela trabalhou e viveu com os Cranach durante dois anos, tornando-se uma grande amiga de Barbara Cranach.

O primeiro amor de Katharina foi Hieronymus Baumgärtner, ex-estudante da Universidade de Wittenberg. Os pais de Hieronymus não consentiram que seu filho casasse com uma ex-freira foragida. Lutero procurou, então, um marido para Katharina: o pastor e professor Kaspar Glatz. Katharina respondeu categoricamente que não se casaria com o professor Kaspar, mas estava disposta a casar com o próprio Lutero. Esse não hesitou e aceitou o pedido de Katharina.

No dia 13 de junho de 1525, Katharina e Lutero casaram-se. Após o casamento, o casal mudou-se para o antigo convento dos monges agostinianos, o Schwarzes Kloster (convento negro). Katharina von Bora deu à luz seis crianças: João (1526), Elizabeth (1527), Magdalena (1528), Martin (1531), Paul (1533) e Margarete (1534). Um grande sofrimento para o casal foi a morte prematura das filhas Elisabeth e Magdalena. O casal viveu no convento negro durante 20 anos com filhos/as, familiares, estudantes, convidados/as, visitas, pessoas refugiadas e também pessoas que trabalhavam com a família.

Em suas cartas, Lutero refere-se a Katharina como: minha querida Käthe, fazedora de cerveja, juíza no mercado de porcos, minha simpática querido senhor Katharina Luther (mesmo com uma linguagem que não seja inclusiva, Lutero coloca Katharina em igualdade com os homens), doutora, pregadora de Wittenberg, minha estrela da manhã de Wittenberg, minha graciosa, querida dona de casa, a Lutera. Lutero também assinava as cartas a Katharina de forma carinhosa: Teu amorzinho.

Katharina foi uma mulher que rompeu com muitas fronteiras de seu tempo.

1) Um de seus primeiros atos foi um gesto de rebeldia. Ela fugiu do convento, enfrentou todos os perigos, inclusive perigo de morte. Com isso assumiu que a salvação pode ser vivida fora dos muros do convento. A salvação é por graça e fé. Princípio fundamental da Reforma luterana.

2) Escolheu com quem queria casar e casou-se com o reformador Martim Lutero.

3) Participou das conversas à mesa e discussões teológicas com estudantes e reformadores. Lutero chamou-a de doutora.

4) Rompeu com o mundo privado. Ela foi chamada pelo marido de juíza, mercadora no mercado de porcos. Isso significa que ela negociava no mercado. O mercado era parte do mundo público, onde quem negociava eram os homens.

5) Além do mais, Katharina é considerada a primeira administradora, empreendedora rural, pois ser Hausfrau (dona de casa) tinha outro significado daquele que conhecemos hoje. Dona de casa significava ser administradora de todos os bens da família (casa, terras, animais). Katharina, inclusive, negociou com os editores dos escritos de Lutero.

6) Ela aumentou o patrimônio da família, comprou terras em Züllsdorf. Coordenava uma fábrica de cerveja, alugou um açude para criação de peixes, também tinha criação de abelhas.

7) Outro ponto importante a ser considerado na Idade Média são os conhecimentos de medicina. Provavelmente a farmácia doméstica de Katharina contava com uma rica variedade de espécies cultivadas em sua horta. Ela cuidou da saúde de Lutero, que sofria de dores renais. Além do mais, ela era amiga de Lucas Cranach, que foi, além de importante pintor, farmacêutico na cidade de Wittenberg.

8) Katharina abrigava em seu pensionato no Schwarzes Kloster estudantes e hóspedes de várias regiões da Europa, que vinham discutir questões relativas à teologia e ao movimento da Reforma que estava em curso. Portanto Katharina foi uma mulher que se relacionava com a intelectualidade do período da Reforma. Numa conversa à mesa, Lutero disse: “(...) Eu não trocaria minha Käthe nem pela França e nem por Veneza. Ela me foi dada por Deus, assim como eu fui dado a ela”.

Lutero faleceu no dia 18 de fevereiro de 1546, e ele a tinha colocado como sua única herdeira e responsável pelos filhos e filhas em seu testamento. No entanto, esse desejo de Lutero não condizia com as leis da época, pois uma viúva necessitava de um tutor. O testamento de Lutero foi contestado, e assim Katharina perdeu o direito sobre muitos bens da família. O tempo de viuvez de Katharina foi muito difícil. Uma grande peste abateu-se sobre a cidade de Wittenberg, e em 1552 Katharina von Bora retirou-se com sua filha Margarete para a cidade de Torgau. Em direção a Torgau, ela sofreu um acidente, em consequência do qual veio a falecer em 20 de dezembro de 1552, sendo enterrada na Igreja de Maria em Torgau.

A história de vida de Katharina von Bora, uma mulher que rompeu muitas fronteiras, é uma narrativa importante para a luta das mulheres. Romper fronteiras, buscar a emancipação humana do ser e do fazer, presença pública, ser cidadã, dizer a sua palavra é um princípio fundamental da Reforma protestante. 


Autor(a): Pa. Dra. Claudete Beise Ulrich
Âmbito: IECLB / Sinodo: Espírito Santo a Belém
Área: Missão / Nível: Missão - Mulheres
Natureza do Texto: Artigo
ID: 40916

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