Agora, começam os ‘outros 500’!
Lutero e o seu empenho que resultou na Reforma precisam ser compreendidos a partir da sua Teologia. Enquanto a Igreja da época difundia a imagem de Deus como juiz severo, o que favorecia o comércio de indulgências, Lutero redescobriu a mensagem verdadeira da Escritura: o sacrifício de Cristo trouxe (e traz a cada novo dia!) o presente (a graça) chamado perdão. O que Deus requer de nós (e este é seu amoroso convite) é que peçamos perdão, nos arrependamos e, em resposta, vivamos como pessoas generosas, solidárias, promotoras da paz e da justiça. A partir dessa redescoberta, Lutero sentiu-se livre, livre de medo e culpa diante de Deus e pronto para mostrar as consequências dessa fé para a vida em sociedade.
É possível que ainda não tenha sido suficientemente compreendido – tanto por luteranos e luteranas, quanto pela sociedade brasileira – o legado da Reforma do século XVI a partir da Teologia de Lutero. Tomemos como exemplo a educação. Lutero foi enfático nisso. Ele constatou que, na sua época, a população era ludibriada em nome da religião e pela política e grande parte disso se devia ao fato de o povo ser iletrado. Ouvia pregações como se fosse o Evangelho, mas o Evangelho não era. Daí que Lutero definiu e defendeu a importância da escola – também para mulheres!
O que fizeram as famílias luteranas que vieram ao Brasil a partir de 1824? Ali onde um grupo de famílias luteranas abria uma picada para fincar suas raízes, a primeira providência era criar condições para as crianças disporem de escola. Eine Kirche - Eine Schule, diziam, ou seja Uma Igreja - Uma Escola.
Das teses de Lutero, temos a valorizar a importância da sua visão de ética. Ética na política, por exemplo, que tanto faz falta no Brasil. Lutero não misturou nem confundiu ética cristã e política. Ele distinguiu e relacionou. Para o Reformador, fazer política é cuidar de quem sofre e impedir que se pratique o mal. A ética luterana requer saber que, como pessoa cristã, tenho responsabilidade cidadã. Lutero, aliás, tem uma singela e profunda defini- ção de ética. Disse ele: ‘Se eu soubesse que morreria amanhã, ainda hoje pagaria as minhas dívidas’.
Pensemos como seria a nossa convivência em sociedade se a educação de qualidade fosse direito de todas as pessoas e se essa ética governasse os nossos atos!
P. Dr. Nestor Friedrich | Pastor Presidente da IECLB