Afinal, que Igreja queremos ser?
É possível que você já tenha ouvido falar na IECLB como sendo a Igreja dos alemães. Filha de casamento misto, de pele morena e cabelos cacheados, tive dificuldades para compreender essa expressão. Afinal, eu não era alemã e participava dessa Igreja. Ao perguntar para o pai e a mãe o porquê da ‘nossa Igreja’ ser conhecida assim, responderam-me: A ‘nossa Igreja’ vem da Alemanha. O meu avô paterno dizia que, para frequentar o Ensino Confirmatório, era necessário orar o Pai Nosso e recitar o Credo Apostólico em Língua Alemã. Fiquei receosa com essa informação, pois eu não falava e tampouco entendia esse idioma... Se eu não aprendesse, poderia, mesmo assim, ser parte dessa Igreja? Atenta ao nosso diálogo e à tensão, a minha avó tratou de me acalmar, dizendo: ‘No nosso tempo, era assim, mas, agora, não é mais’.
Mais tarde, já adulta, um jovem casal perguntou-me se era possível tornar-se membro e participar da Igreja Luterana. A dúvida surgiu por causa da cor da pele. Ambos eram negros e haviam ouvido de pessoas amigas que essa era uma ‘Igreja de alemães’.
Os exemplos mostram o quanto a identificação comunitária com a cultura germânica marcou a história da formação das Comunidades da IECLB. Em boa medida, uma parcela signifi cativa dos primeiros imigrantes vindos da Alemanha para o Brasil entendeu a Comunidade de fé como espaço de vivência e transmissão da cultura germânica para as novas gerações. Em algumas Comunidades, a fé e a cultura germânica estiveram tão arraigadas que foi difícil dissociá-las.
Especialmente a partir das duas Guerras Mundiais, esse modelo de Igreja entrou em crise. As transformações pelas quais passou o país exigiram das Comunidades a capacidade de mudar sem perder os referenciais característicos de uma Igreja de Confi ssão Luterana.
Para responder aos desafios, teve início um processo de abrasileiramento das Comunidades. Na medida em que a Igreja foi se estruturando nacionalmente, vínculos com outras Comunidades étnicas de pessoas que professavam a fé evangélica luterana foram se formando (húngaros, japoneses, estonianos...).
Não há como fazer frente aos desafios de hoje sem conhecer a caminhada. Daí a importância de olhar para a história para compreender o presente e vislumbrar o futuro. Hoje, a IECLB preserva muitas dessas marcas ao mesmo tempo que reconhece novos desafios para o anúncio e a vivência do Evangelho.
O trabalho junto aos povos indígenas do Brasil, por meio do Conselho de Missão entre Povos Indígenas (Comin), o suporte ao Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa) e, por meio dele, às Comunidades Quilombolas, e a criação da Coordenação de Gênero, Gerações e Etnias são exemplos de iniciativas que a IECLB tem feito na tentativa de superar o estigma de ‘Igreja dos alemães’, de modo a ser reconhecida cada vez mais como uma Igreja de Comunidades atrativas, inclusivas e missionárias.
Pa. Carmen Michel Siegle | Coordenadora de Gênero, Gerações e Etnias
PRONUNCIAMENTO |
Anúncio da esperança
A essência da Igreja Cristã é ser missionária. Anunciar o Evangelho é a sua razão de ser. Considerar a Missão como o cerne da nossa existência como IECLB é reconhecer que toda a prática comunitária volta-se para levar o Evangelho até os confins da terra.
Só faz sentido sermos Igreja Cristã se assumimos o dom de Deus como serviço evangelizador e solidário ao povo brasileiro, sem distinção de classe, etnia, gênero ou credo .
Deus nos chamou para ser Igreja no Brasil e para servir a este povo, compartilhando a fé em Cristo, que recebemos por graça, para vivermos em amor e solidariedade com as demais pessoas no caminho das quais somos enviados e enviadas como crentes e Comunidade Missionária que anuncia esperança.
Plano de Ação Missionária da IECLB PAMI/2008-2012